Fernando Correia Pina

Azares do caralho


Cansado de engolir caralhos que não via
um velho que do cu fizera ofício
achou por muito bem mudar de vício
e dar também aos olhos alegria.

Assim pensando, ergueu-se o debochado
e frente ao espelho, careca e todo nu,
põe-se a rezar responsos pelo cu
e a soluçar: repousa, ó desgraçado.

Ei-lo que sai em busca de um amante.
A sorte está com ele: logo ali adiante
uma picha se oferece aos seus lábios trementes.

Mas... ó maldito azar! Fica em meio o trabalho
porque o outro lhe foge com o duro caralho
donde pende, asquerosa, a placa dos dentes.

A um peido durante o coito


Cagou-se a mulher que eu mais amava
quando a paixão se estava a consumar,
Cupido largou setas e aljava,
recolheu-se ao Olimpo a praguejar.

Sobre o leito do Amor quis o destino,
vibrando um golpe baixo e imoral,
que mais pudesse o fétido intestino
que o vigoroso instinto sexual.

Fez-se o chouriço então em farinheira,
onde havia suspiros houve risada,
a cona se fechou muito fagueira,

o caralho murchou à gargalhada
e a seus males juntou mais um achaque -
a impotência que lhe deu um traque.

Da arte de bem cavalgar


Faz de conta que és tronco que a maré rejeita,
deitado e imóvel no liso areal,
com uma pernada altiva que espreita
o purpúreo mistério, a boca corporal.

De joelhos se ponha a mulher eleita,
assente nas canelas, o tronco vertical,
com as pernas abertas, simetria perfeita
sobre a ponta da verga dura como metal.

Que te monte depois como um jockey de classe
sugando dentro dela o ávido arção,
num rápido crescendo, como se procurasse

vencer distanciada o derby da tesão.
E tu, dócil cavalo que os colhões tens por sela,
partilha o seu triunfo - geme e vem-te com ela.

Colchão eléctrico


Que noite, Serafim. Que noite memorável!
Vinte vezes me vim e tu sempre prestável,
sempre em cima de mim, o cu a dar a dar
e eu num gozo sem fim, com ganas de gritar.
Que noite, Serafim. Foi assim como um choque
sempre a correr por mim, a cona num bitoque,
a pedir mais chinfrim, gulosa do caralho -
fogoso berbequim em ardente trabalho.
Que noite, Serafim. Electrizante estado
de volúpia atingi até que te vieste
de cabelos em pé, ofegando ao meu lado
dizendo em confissão
com ar triste de fado -
a merda do colchão
estava mal isolado.

Depois de amar tão loucamente


Depois de te amar tão loucamente,
depois dessa paixão que me abrasou,
depois dessa tesão omnipotente
que os ossos do bom senso devorou,

achei-me um dia só, subitamente,
perguntando-me – agora onde é que vou
sem ninguém a quem amar intensamente,
sem ninguém a quem me dar tal como sou?

E a resposta não veio. Fiquei sozinho
afogando-me em desespero e vinho,
em tristes píveas, em anti-depressivos

e de ti, que hoje és apenas história,
guardo somente a saudosa memória
num pintelho entalado entre os incisivos.